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Crono e Zeus |
No teatro do mundo,
o cenário está montado. Abriu-se o espaço, o
tempo passou, gerações vão se suceder. Há o mundo
subterrâneo, há a vasta terra, as ondas, o
rio Oceano que cerca tudo isso e, lá em cima, um
céu fixo. Assim como a terra é um local
estável para os homens e os bichos, também,
no alto, o céu etéreo é morada segura
para as divindades. Os Titãs, fihos do Céu, e que
são os primeiros deuses propriamente ditos,
têm, pois, o mundo à sua disposição. Vão
se instalar bem no alto, sobre as
montanhas da terra, ali onde também se estabelecerá
a morada estável das divindades menores,
como as Náiadas, Ninfas dos Bosques e
Ninfas das Montanhas. Cada um deles
se instala onde pode agir.
Bem no alto
do céu encontram-se os deuses Titãs, esses
a que chamamos de Urânidas, filhos de
Urano, rapazes e moças. À frente deles está o caçula, o
mais jovem dos deuses, que é astuto,
burlão, cruel. É Crono, que não hesitou em cortar
as partes sexuais de seu pai. Ao ter a ousadia
desse gesto, desbloqueou o universo, criou o espaço,
engendrou um mundo diferenciado, organizado. Esse gesto positivo
também tem um aspecto sombrio, pois ao mesmo tempo é uma
falta pela qual ele terá de pagar: quando
se retirou para seu lugar definitivo, Urano
não deixou de lançar contra seus filhos,
os primeiros deuses individualizados, uma imprecação
que se realizará e ficará a cargo das
Erínias, nascidas da mutilação. Um dia, Crono terá de
pagar a dívida com as Erínias vingadoras de
seu pai.
Portanto, é Crono,
o mais moço e também o mais audacioso
filho de Gaia aquele que emprestou seu
braço à artimanha da mãe para afastar
Céu e separa-lo dela, que será o
rei dos deuses e do mundo. Com ele,
em torno dele, estão os deuses Titãs, inferiores mas
cúmplices. Crono os libertou, eles são
seus protegidos. Dos abraços de Urano e Gaia,
também haviam nascido dois trios de personagens
que, de início, estavam bloqueados, tal
como seus irmãos Titãs, no seio de Terra: são
os três Ciclopes e os três Cem- Braços. O
que acontece com eles? Tudo leva a crer
que Crono, esse deus ciumento e malvado,
sempre à espreita, os acorrentou, receoso de que
alguém estivesse tramando um golpe baixo
contra ele. Amarra os três Ciclopes, os
três Cem-Braços,e relega-os ao mundo infernal.
Por outro lado, os Titãs e as Titânidas vão
se unir, Crono a uma delas, Rea. Esta
aparece como uma espécie de dublê de
Gaia. Rea e Gaia são duas forças
primordiais próximas. No entanto, algo as diferencia:
Gaia tem um nome transparente para qualquer grego, pois
se chama Terra e é a terra; Rea, por sua vez,
recebeu um nome pessoal, individualizado,
que não encarna nenhum elemento natural. Rea
representa um aspecto mais antropomorfo, mais
humanizado, mais especializado do que Gaia. Mas, no
fundo, Gaia e Rea são como mãe e
filha, muito próximas, semelhantes.
No teatro do mundo,
o cenário está montado. Abriu-se o espaço, o
tempo passou, gerações vão se suceder. Há o mundo
subterrâneo, há a vasta terra, as ondas, o
rio Oceano que cerca tudo isso e, lá em cima, um
céu fixo. Assim como a terra é um local
estável para os homens e os bichos, também,
no alto, o céu etéreo é morada segura
para as divindades. Os Titãs, fihos do Céu, e que
são os primeiros deuses propriamente ditos,
têm, pois, o mundo à sua disposição. Vão
se instalar bem no alto, sobre as
montanhas da terra, ali onde também se estabelecerá
a morada estável das divindades menores,
como as Náiadas, Ninfas dos Bosques e
Ninfas das Montanhas. Cada um deles
se instala onde pode agir.
Bem no alto
do céu encontram-se os deuses Titãs, esses
a que chamamos de Urânidas, filhos de
Urano, rapazes e moças. À frente deles está o caçula, o
mais jovem dos deuses, que é astuto,
burlão, cruel. É Crono, que não hesitou em cortar
as partes sexuais de seu pai. Ao ter a ousadia
desse gesto, desbloqueou o universo, criou o espaço,
engendrou um mundo diferenciado, organizado. Esse gesto positivo
também tem um aspecto sombrio, pois ao mesmo tempo é uma
falta pela qual ele terá de pagar: quando
se retirou para seu lugar definitivo, Urano
não deixou de lançar contra seus filhos,
os primeiros deuses individualizados, uma imprecação
que se realizará e ficará a cargo das
Erínias, nascidas da mutilação. Um dia, Crono terá de
pagar a dívida com as Erínias vingadoras de
seu pai.
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Rea |
Portanto, é Crono,
o mais moço e também o mais audacioso
filho de Gaia - aquele que emprestou seu
braço à artimanha da mãe para afastar
Céu e separa-lo dela, que será o
rei dos deuses e do mundo. Com ele,
em torno dele, estão os deuses Titãs, inferiores mas
cúmplices. Crono os libertou, eles são
seus protegidos. Dos abraços de Urano e Gaia,
também haviam nascido dois trios de personagens
que, de início, estavam bloqueados, tal
como seus irmãos Titãs, no seio de Terra: são
os três Ciclopes e os três Cem- Braços. O
que acontece com eles? Tudo leva a crer
que Crono, esse deus ciumento e malvado,
sempre à espreita, os acorrentou, receoso de que
alguém estivesse tramando um golpe baixo
contra ele. Amarra os três Ciclopes, os
três Cem-Braços, e relega-os ao mundo infernal.
Por outro lado, os Titãs e as Titânidas vão
se unir, Crono a uma delas, Rea. Esta
aparece como uma espécie de dublê de
Gaia. Rea e Gaia são duas forças
primordiais próximas. No entanto, algo as diferencia:
Gaia tem um nome transparente para qualquer grego, pois
se chama Terra e é a terra; Rea, por sua vez,
recebeu um nome pessoal, individualizado,
que não encarna nenhum elemento natural. Rea
representa um aspecto mais antropomorfo, mais
humanizado, mais especializado do que Gaia. Mas, no
fundo, Gaia e Rea são como mãe e
filha, muito próximas, semelhantes.