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Gaia se liberta de Urano |
Ao castrar Urano, a conselho e graças à
astúcia de sua mãe, Crono cumpre uma etapa fundamental no nascimento do cosmo.
Separa o céu e a terra. Cria entre o céu e a terra um espaço livre: tudo o que
a terra produza. tudo o que os seres vivos engendrarem, terá espaço para
respirar, para viver. Assim, o espaço se desbloqueia, mas o tempo também se
transforma. Enquanto Urano pesava sobre Gala, não havia gerações sucessivas,
pois elas ficavam ocultas dentro da criatura que as produzira. Quando Urano se
retira, os Titãs podem sair do colo materno e, por sua vez, darem à luz.
Inicia-se então uma sucessão de gerações. O espaço se libera e o "céu
estrelado" tem agora o papel de um teto, de uma espécie de grande abóbada
escura, estendida acima da terra. De vez em quando, esse céu preto vai se
iluminar, pois agora o dia e a noite se alternam. Ora surge um céu preto tendo
apenas a luz das estrelas, ora, ao contrário, é um céu luminoso que aparece,
tendo apenas a sombra das nuvens.
Deixemos por um instante a descendência de
Terra e encontremos a de Caos. O Abismo produz dois filhos, um se chama Érebos,
Érebo, o outro, Nýx, Noite. Como prolongamento direto de Caos, Érebo é o negro
absoluto, a força do negro em estado puro, sem se misturar a nada. O caso de
Noite é diferente. Assim como Gaia, ela também gera filhos sem se unir a
ninguém, como se os fizesse em seu próprio tecido noturno: trata-se de Aithér,
Éter, Luz Etérea, e de Hemére, Dia, Luz do Dia.
Érebo, filho do Caos, representa o negro
próprio dessa criatura. Inversamente, Noite invoca o dia. Não há noite sem dia.
Quando Noite produz Éter e Dia, o que faz ela? Assim como Érebo era o escuro em
estado puro, Éter é a luminosidade em estado puro. Éter é a contrapartida de
Érebo. O Éter brilhante é a parte do céu onde nunca há escuridão, ou seja, a
que pertence aos deuses do Olimpo. O Éter é uma luz extraordinariamente viva
que nunca é alterada por sombra alguma. Ao contrário, Noite e Dia se apoiam
mutuamente, opondo-se. Desde que o espaço se abriu, Noite e Dia se sucedem regularmente.
À entrada do Tártaro encontram-se as portas da Noite que se abrem para a sua
morada. É ali que Noite e Dia se apresentam sucessivamente, se comunicam, se
cruzam, sem jamais se juntarem nem se tocarem. Quando há noite não há dia,
quando há dia não há noite, mas não há noite sem dia.
Assim como Érebo representa uma escuridão
total e defnitiva, Éter encarna a luminosidade absoluta. Todos os seres que
vivem na terra são criaturas do dia e da noite; com exceção da morte, eles
ignoram essa escuridão total que nenhum raio de sol jamais alcança e que é a
noite do Érebo. Os homens, os bichos, as plantas vivem noite e dia nessa
conjunção de opostos, ao passo que os deuses, bem no alto do céu, não conhecem
a alternância do dia e da noite. Vivem numa luz profunda e permanente. No alto, temos os deuses celestes no Éter brilhante, embaixo os deuses terrâneos ou
os que foram derrotados e enviados ao Tártaro, e que vivem numa noite constante;
e depois, os mortais, neste mundo, que já é um mundo de mistura.
Voltemos a Urano. O que acontece quando
ele se fixa no alto do mundo? Não se une mais a Gaia, a não ser durante as
grandes chuvas fecundantes, quando o céu se solta e a terra dá à luz. Essa chuva benfazeja permite que nasçam na terra novas criaturas, novas plantas, cereais.
Mas, fora esse período, está cortado o vínculo entre o céu e a terra.
Quando Urano se afastou de Gaia, lançou
uma terrível imprecação contra seus filhos: "Ireis chamar-vos Titãs",
disse-lhes, fazendo um trocadilho com o verbo titaíno, "porque estendestes os braços alto demais, ireis expiar o crime de ter levantado a mão para vosso
pai". As gotas de sangue de seu membro viril mutilado que caíram no chão
deram origem, algum tempo depois, às Erínias. São elas as forças primordiais
cuja função essencial é guardar a recordação da afronta feita por um parente a
outro, e de fazê-lo pagar, seja qual for o tempo necessário para isso. São as
divindades da vingança pelos crimes cometidos contra os consangüíneos. As
Erínias representam o ódio, a recordação, a memória do erro, e a exigência de que o crime seja castigado.
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Ninfa |
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As Erínias |
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Ciclope |
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