Comecemos pelo Céu, isto
é, Urano, gerado por Gaia e do mesmo
tamanho que ela. Ele está deitado, estendido sobre quem
a gerou. O Céu cobre completamente a Terra. Cada
porção de terra é duplicada por um pedaço
de céu que lhe corresponde perfeitamente. Quando
Gaia, divindade poderosa, Mãe-Terra, produz Urano, que é
seu correspondente exato, sua duplicação, seu
duplo simétrico, nos encontramos em presença
de um casal de contrários, de um macho
e uma fêmea. Urano é o Céu, assim como Gaia
é a Terra. Na presença de Urano, Amor age
de outro modo. Nem Gaia nem Urano produzem
sozinhos o que cada um tem dentro de
si, mas da conjunção dessas duas forças nascem seres
diferentes de uma e outra.
Urano está o
tempo todo se deitando sobre Gaia. Urano primordial não
tem outra atividade além da sexual. Cobrir
Gala incessantemente, o mais possível: ele só pensa
nisso, e só faz isso. Então, essa pobre
Terra acaba grávida de uma série de filhos que
não conseguem sair de seu ventre e aí
continuam alojados, aí mesmo ond
e Urano os concebeu. Como Céu nunca se distancia de Terra, não há espaço entre eles que permita aos seus filhos Titãs virem a luz e terem uma existência autónoma. Estes não podem tomar a forma que é a deles, não podem se transformar em seres individualizados, pois não conseguem sair do ventre de Gaia, ali onde o próprio Urano esteve antes de nascer.
e Urano os concebeu. Como Céu nunca se distancia de Terra, não há espaço entre eles que permita aos seus filhos Titãs virem a luz e terem uma existência autónoma. Estes não podem tomar a forma que é a deles, não podem se transformar em seres individualizados, pois não conseguem sair do ventre de Gaia, ali onde o próprio Urano esteve antes de nascer.
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O segundo trio - Os cem braços |
Ao lado dos
Titãs, esses primeiros deuses individualizados -ao
contrário de Gaia, Urano ou Ponto, eles não
são apenas um nome dado a forças naturais -,
os Ciclopes representam a fulgurância da
visão. Possuem um só olho no meio da
testa, mas esse olho é fulminante, assim
como a arma que vão oferecer a Zeus. Força
mágica do olho. Por sua vez, os Cem-Braços representam,
com sua força brutal, a capacidade de vencer, de
triunfar pela força física do braço. Para uns,
força de um olho fulminante; para outros, força
da mão que é capaz de juntar, apertar,
quebrar, vencer, dominar todas as criaturas
no mundo. No entanto, Titãs, Cem-Braços e Ciclopes
estão no ventre de Gaia; Urano está deitado
sobre ela.
Ainda não há propriamente
luz, pois Urano, ao se deitar sobre Gaia,
mantém uma noite contínua. Então, Terra explode
de raiva. Está furiosa por reter em seu
seio esses filhos que, sem poderem sair,
deixam-na inchada, comprimem-na, sufocam-na. Dirige-se a eles,
em especial aos Titãs, dizendo-lhes: “Escutai, vosso
pai nos faz injúria, nos submete a violências
horríveis, isso tem de acabar”. Deveis revoltar-vos
contra vosso pai Céu: Ao ouvir essas palavras vigorosas,
os Titãs, no ventre de Gaia ficam aterrorizados.
Urano, que continua instalado sobre a mãe
deles, tão grande quanto ela, não lhes parece fácil
de ser vencido. Só o caçula, Crono,
aceita ajudar Gaia e enfrentar o pai.
Terra concebe um plano
particularmente engenhoso. Para executa-lo, fabrica dentro de
si mesma um instrumento, um tipo de foice, a harpe,
em metal branco. Depois, coloca essa foice
na mão do jovem Crono. Ele está no
ventre da mãe, ali onde Urano se uniu a Terra,
e fica à espreita, em emboscada. Quando Urano
se deita sobre Gaia, ele agarra com a mão
esquerda as partes sexuais do pai, segura-as
firmemente e, com a foice que brande
na mão direita, corta-as. Depois, sem se virar,
para evitar a desgraça que seu gesto teria
provocado, joga por cima do ombro o membro viril
de Urano.
Desse membro
viril, cortado e jogado para trás, caem
sobre a terra Gotas de sangue, ao passo que o
próprio sexo é atirado mais longe, nas ondas do
mar. No momento em que é castrado,
Urano dá um berro de dor e se afasta
depressa de Gaia. Vai então se
instalar bem no alto do mundo, de onde não mais
sairá. Como Urano tinha o mesmo tamanho de Gaia,
não há um só lote de terra que não encontre lá
em cima um pedaço equivalente de céu.
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